24 de jan. de 2012

Chuva de desprezo


A chuva de pedra que cai por aí
Mata nossos homens, nossas mulheres e filhos
Enchente de rios de gente
Lama de sonhos frustrados
Tetos que vão abaixo
Lares que se calam

Mas o amor permanece
Quem fica chora pelos que foram
Força não falta na lágrima que cai
Do velho que perde o neto
Do moço que perde a amada
Da mobília toda molhada que já não presta mais

Mas o amor permanece
Mesmo sabendo que todo janeiro é assim
As águas do verão a pôr abaixo tanto coração
Tanto tijolo, tanto cimento,
Deixa solidão gritar ao vento
Que os seus entes perdidos
Foram queridos anônimos
Que a terra pôs-se a engolir

Mas o amor permanece
Ainda não havendo medidas
Que poderiam ser preventivas
Mesmo com tanto político
A representar com ternos cheios de esmero
Contas bancárias de notas
Promessas inchadas de desprezo,
Eles esperam:
A contenção das encostas sofridas
A construção de casas-abrigos
O pagamento da bolsa-morada
O retorno à mesa em família

Mas o amor permanece
Ausente de mesa ou de família.
Porque nossos homens não voltarão
Nem as mulheres os filhos ou netos
Somente as lembranças que deles nos restam
Tampam o buraco da dor

Para as autoridades,
Ministério da Integração Nacional
ou das Cidades, porém,
O buraco não é tão fundo
E não há amor que permaneça
Em suas seguras mansões de vidro,
Pensam mórbidos, vencidos:
“Agora que não têm mais família,
Aqueles pobres mendigos,
Pra quê precisarão de casas?
Bastam-lhes os abrigos”.

10/01/2012
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Viajante espacial da poética atemporal.

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