9 de jul. de 2015

Tenho o cansaço

Tenho o cansaço das paredes
inerte, empalidecida, tenho
rasgos cicatrizes marcas
d'outras vidas

O assombro de antigos tempos:
adormecido
O vigor pelas manhãs:
não amanhece
Tantas tralhas
d'antes raras e propícias
agora, nada,
me enlouquecem

Nem os livros
sempre abismos abrigos contra
duradouras tempestades
presentemente são
muitos e vãos descabidos mundos
para uns olhos mudos que não podem ver

Aonde o broto verdejante?
Nas entranhas feridas cintilantes
esses brilhos de doença regozijam-se de
meu martírio

Que há de livre no uivar dos cães?
Que há dos ricos no
murmúrio balbuciante dos
indigentes?
Que há de vida  na poesia aflita que
congela presentes para
forjar partidas?
Que?

27 de fev. de 2015

Triste

Tem um tempo que não choro. E de repente dou a cara a tapa. E como que expulsa de um mar sereno e sem ondas, escorre uma lágrima. Uma tristeza que não batia desde o último outono. Rever castelos construídos que se liquidaram, ler versos d’outrora que hoje desconheço. Pareço ter vivido outra vida, mas cá estou com as lembranças mornas etéreas de paisagens duras de mim. Há uma leveza no encontro com outros tempos. Mas não sem dor é esse abraço. O peito palpita, vibra a carne trêmula, e a única gota a escorrer pela face já secou. Quantas flechas andei a lançar, de quantos abismos me vi a pular? Tijolo por tijolo, levantei paredes, rompi amarras, abri portas e me atirei de janelas. Mas nada é tão forte que dure para sempre. Tudo que foi pesado, hoje é poeira. Não há caminho aberto. Tudo está por abrir. Estar só é uma quimera que se aprende em companhia. Estar só é a possibilidade do encontro. Aonde todas as cores? Que fim levaram aqueles acordes primevos? As mãos tremem, o peito sangra, a pele se desfaz. Não sou mais que o capim inexistente na cidade, não tenho pretensão de lustre. Aprendo uma nota por vez, banho na lágrima seca as palavras outras das gentes que me fizeram, letra a letra, mística procissão. Tem um tempo que não choro. E mais que triste, é grande a invasão. Sou letras tortas, a erva daninha no vazio. Amontoado de nós e cacos, o escuro da noite perfurando a morada. Isto não é um desabafo. Isto não é uma dor. Quiçá seja um grito do corpo a mostrar pro que veio. Já disse, não tenho pretensão de lustre. De cristal, muito menos. Essas linhas trôpegas são mais um monte entrelinhas, a dizer o que não querem. A vida própria da linguagem me aniquilando. Quando chorarei novamente por uns versos tristes? Que os versos não sejam meus, e que a tristeza seja somente metáfora de uma luta por coragem. Aprender e cair, amar e sofrer, gozar e doer. Nada tão imenso quanto essa arrebatadora sorte que é estar viva, e poder, confiante, assumir na efemeridade do agora: estou triste. 
Minha foto
Viajante espacial da poética atemporal.

Visitantes