afasiar-se


I
Afásia é uma amiga imaginaria. É um elo perdido de alguém que procura se encontrar num mundo que oferece milhares de alternativas. O que fazer? De que forma se expressar? Por onde começar? Afásia é o halo de uma busca apaixonada em seu embate com a realidade. Afasia é tentativa, experimentação, é perda, luz, tensão. Afasia é um todo de sensações e um nada de coerência. Afasia é isso, é incoerência, é amoral, é intenção e distensão. Como é possível descobrir Afásia que é tão lenta, num mundo que é tão rápido? Como corromper a parede que afasta Afásia do mundo? Como adentrar no universo afasiático? A proposta aqui é compreender a difícil poética de Afásia, ainda que difusamente, e aforgar-me em sua psicose catártica.

II
Afásia encontrou o que não procurava. Um espelho que lhe mostrava sua constituição interior. Seus destroços internos, suas incoerências, suas desintenções. Afásia viu o que não queria. E vomitou. Vomitou ansiedades, tensões, covardias, desprezos. Quanto mais se olhava mais profundos tornavam-se seus anseios e mais se conhecia. A maior dor do mundo é a do autoconhecimento, é a do explodir-se por dentro e ter um refluxo de si mesmo. Após o vômito, Afásia riu. Estava contente de se ter vomitado, pois pensava que não mais existiria após toda essa luta. Riu e fechou os olhos. Se imaginou parte de outro mundo, de outra gente, de outras intermitências. Pensou que seria feliz se não fosse daqui, se fosse da morte. Se é que é possível existir felicidade na morte. Afásia riu de novo. Riu das loucuras indecentes de seus desejos hostis. Afásia riu mais e mais e mais. Ela queria ser grande, mas o mundo a engoliu. E Afásia apenas riu.

III
Afásia é quase-morta. Notívaga no abismo sem eira nem beira. Cega de precipícios. Vaga de mar em ressaca hostil. Afásia é morta. Quase.  
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Viajante espacial da poética atemporal.

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