6 de out. de 2013

Escrever o que vem do fundo é sempre essa coisa meio trôpega, com ares de equilibrista em ponta do pé na corda bamba. A ilusão da realidade nos olhos que focam a sombra do apanhador de sonhos na parede branca. A formiga andarilha que nunca tarda a ressuscitar do ralo. O código de barras que finge ser matéria, coisa produzida, valorosa, mas não passa dumas tramas finas ralas grossas médias que abstraem as relações capitais, nada além de um meio pro fim selvagem da mercadoria. A verdade é que a escrivança não vem do fundo. Vem sempre de fora, desse mundo que tá aí pra jogo. O que muda é o jeito que se fala dessa coisa redonda com uns bons bilhões de seres e vidas e mortes. Vem do fundo sim. Vem não vem Vem. O certo é que o fora bate no fundo e fode tudo. Posso ladrar na madrugada quente dum inverno inexistente. Posso escorrer na garganta a cachaça de mel. Posso letra a letra, respiração forte, dedos pianos, compor uma ode ao cachorro da esquina da anistia, mal sabendo dedilhar um acorde notável. A gente põe a existência pra jogo quando entende que cada onda sonora, cada espectro de luz, cada gosto, cheiro e toque são o sagrado da vida.
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Viajante espacial da poética atemporal.

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