11 de set. de 2009

Tentar ser mais forte que toda natureza é a fraqueza do homem. Eu queria apenas ser tão forte quanto uma rosa. Mas o ser que sou é difícil. É difícil ser eu enquanto pessoa. Mas se eu fosse uma flor, ou uma gaivota, ou um peixe, ou um tigre, é provável que também achasse ser difícil ser qualquer destes. Não. Não acharia. Eu não pensaria, nem teria a capacidade de achar nada, somente seria. Então, enquanto ser humano, chego à conclusão de que seria mais fácil ser qualquer coisa irracional.

Ou talvez eu seja. Vai que sou um animal que enquanto dorme sonha que é ser humano e fica divagando essas sandices? Vai que somos todos animais e que a razão é um sonho sem fim?

É loucura, só pode. A cada um só cabe ser o que se é. Cada um é imanente a si mesmo.

Pelo menos sei que vejo. Não crio nada. Tudo é mera captação de uma realidade que vejo e que se distorce nas “profundezas da minha mente”. É demais querer criar algo que não existe. Tudo existe. Imagino que só os cegos de nascença possam criar. Não sei. Talvez eu seja um erro, como tudo que estou pensando agora.

É estranho estar aqui. Porque um milhão de informações se mesclam confusas em minha cabeça e eu pareço não estar em lugar nenhum. Em lugar nenhum dentro de mim. Em matéria eu estou, eu sou. Mas em interior, não sei. Parece que fiz fuga de mim. E nessa fuga perdi o laço que tive com o externo, de modo que meu corpo é só um espantalho do que não sou mais.

Lucidez? Onde a encontrei esqueci de guardá-la comigo. Espero que quem a achar, saiba dela se utilizar. Não seja bobo como eu, perdendo o que se acha. Aquilo que se acha deve-se guardar com muita cautela, porque provavelmente trata-se de algo que foi importante para alguém. E ter um pouco do desconhecido consigo deve ser como encontrar o deus que não existe. Se deus existe, sou eu. Sou divina enquanto eu mesma, porque existo. O próprio existir já é um deus em si. Todos são deuses, tendo a consciência ou não disto.


~Patrícia Borde

9 de jun. de 2009

8 de jun. de 2009

Paz e Guerra

tudo putrefando aqui e além
a pêra, a maçã, o queijo,
o mundo.
estamos podres
batatas apodrecendo
e o mundo indo
ninguém se lembra da flor
do verde, do azul do vermelho
o mundo está preto e branco
como o sol está transparente
e as pessoas estão sumindo
estão tão dentro de si próprias
que não vêem as outras.
as ondas vêem até nós
e nem sequer admitimos
que estamos nos afogando.
ninguém pode ver.
as crianças estão a nos sorrir
e nossa afaga é a crueldade.
já não existe alteridade (raramente existiu)
cada um tem seu claustro.
as paisagens agora têm dono
e às vezes pagamos para vê-las.
palavras doces foram esquecidas
frieza e frigidez assombram
a inerte beleza das almas mórbidas.
e de novo voam os pássaros
e nadam os peixes
todo dia isso se faz e nem percebemos
porque nossas solidões são conjuntas
e nossa tristeza é depressão
todos estão deprimidos, e então?
quem viverá os mares?
os céus, as terras, as flores?
quem viveá o amor que vaga perdido
sem coração?
quem achará a gentileza
a pairar sobre os muros de uma cidade fantasma?
por onde andaremos com nosso ego
sem os outros, sem nós mesmos?
todo dia que passa
é um novo vento que vem
traz consigo toda calma e toda fúria
que pode ter o mar.

é nessa paz e guerra
que o não viver para o outro
é um não viver de si.

~

24 de mai. de 2009

Negação

A felicidade de meu fracasso sou eu.
Aqui no peito dói tanto,
dói pungente uma inquietude frágil, fraca e descrente.
O mal do meu século é essa dor.
O mal do meu tempo é indolor.
Sinto sem sentir.
Existo sem existir para mim.
Existo para os outros que me vêem,
Não para mim.

Eu não me vejo
Sou toda não ser
Sou toda discórdia interna e um não querer do mundo
Não quero o mundo, ele é imundo.
Estou farta.
Eu prefiro não entender nada de gente, nem de mundo nem de humanismos, porque quem entende geralmente não faz nada além de ficar discutindo e debatendo com outros que também só querem discutir e debater. É verdade que tem uns que fazem de fato, que tem ações importantes e buscam soluções para a grande ferida que é o mundo, mas esses quase sempre são massacrados, esquecidos e menosprezados pela fábrica-de-historinhas-oficiais que é a história. Não há dia que eu não me depare com uma cambada de gente debatendo, e falando, falando pelos cotovelos, falando querendo ser ouvido, nunca parando pra ouvir. São poréns e porquês e contudos e ais e porras e merdas, que ninguém ouve, só grita. E ninguém avança. São gritos histéricos e disputa de egos o tempo inteiro e todos se engabelando, mentindo para si mesmos, fingindo que foram ouvidos. Como se isso já não bastasse, me vem outro me dizer que busca o conhecimento para descobrir a verdade. Ah, por favor... serei rainha da Inglaterra quando alguém descobrir alguma verdade. Que verdades querem descobrir? Que fulano era porco, que cicrano comia galinha, que o imperador da “ponte do rio que cai” usava calcinha??? Ah, me poupem... querem saber de verdades pra quê? O mundo é uma grande mentira, as pessoas se enganam o tempo inteiro, a sinceridade já deixou de existir há muito tempo (com algumas raras exceções, é claro), aí vêm me dizer que estão em busca de uma grande verdade... que eu ainda possa ser viva quando alguém encontrar a verdade suprema e que meus filhos e netos possam se beneficiar dela acreditando em fábulas provavelmente mais verossímeis que essa pseudo verdade dos homens.
Ou de deus, sei lá... Vai que acreditam em milagres!
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Viajante espacial da poética atemporal.

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