14 de ago. de 2010

estanque

estanque os versos quebrados
as palmas das mãos apertadas
os suspiros de espasmos
as palavras gentis
o silêncio guardado

estanque as vozes em sussurros
os apelos tão mudos
serenos gritantes do mundo

estanque o estar-se ao lado
o querer-se por perto
o calor dos olhares
o murmúrio exaltado de quem se deixou

estanque com destreza o passado
com seus rabiscos cortado e cortante
da dor maturada enervada e constante
do ébrio toque

estanque o decalque colado
a tatuagem bordada
o martírio do bêbado em cela fechada

e tão mais depressa se estanque
o pulsar do que há no peito
se estancará o sangue do sentir partido

e quem sabe então
se estancará a dor pungente
das incertas escolhas
e dos caminhos perdidos

num rito final estanque
o que existe aqui - e lá
para não se vagar no riso
da cruel ausência sarcástica

e tanto mais
para não se morrer de triste
na embriaguez do mundo
de sentimentos velados.

Um comentário:

  1. "Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê"

    Caio Fernando Abreu - Nos Poços

    (só tinha como passar por aqui...)

    ResponderExcluir

Minha foto
Viajante espacial da poética atemporal.

Visitantes