1 de mai. de 2011

O alimento

Não tenho mais onde montar esquemas
E nem por onde edificar bravuras
Não tenho mais onde cerzir costuras
E muito menos posso encomendar posturas

Simplesmente porque não sigo regras
Simplesmente porque não sou cinema
Porque componho catarses, sou paisagem
Porque promovo espasmos e corôo espaços

Por tudo e pelo menos não permito máscaras
Por tudo que o dia esconde no raio perdido de sol
Pelo menos que a lua brilhe n’outros astros, só
Poderei sorver meus gritos de centelha e nó

Para muito além do que vejo
Para trás e aquém do desejo
Noto o mundo em sua imediatez severa
Desperto muda em mim a embriaguez esmera

Não há como implodir os zombares de aspereza
Que nascem como espinhos a defender certezas
Mas há como fazer crescer entre as doenças
O brilho de olhar que é natureza transmutada

É nesse vai-e-vem supremo,
Transformar sereno, entornar meneios, destroçar de anseios
que o vento bate sorrateiro na paragem ausente
na imagem pungente do meu corpo inteiro

Apalpo imóvel a corrosão do tempo
Percebo pisque a pisque as rachaduras do meu ser ignóbil
Espremo, rouca, toda voz de dentro,
A rima, o cosmos e sua discórdia sinestésica

E sento, calma, inerte, em pausa
Para ver passar na rua o ambulante que grita “_Ambrosia!”
Ele me vende o alimento dos deuses:
A solidão, “_Afasia!”

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