9 de jun. de 2011

A tentativa de manter-me sempre inteira tem me tornado, quem sabe, estrangeira. Há um tempo, eu caía e me afundava no tombo; agora, caio, levanto e sigo como se nunca tivesse caído. Há uma mudança terrível aí. Parece que o rio da indiferença anda a banhar-me. Os gestos já não me tocam como antes, nem nada me arrepia tanto. Virei clandestina de mim mesma, de modo que não me importo mais a mim. As ações humanas me rodeiam e fico ali prostrada a contemplá-las como quem contempla uma paisagem. Não tenho palavras bonitas a dizer. Não quero dizer nada. Só me habita o silêncio. Não quero falar, muito menos pensar. E estão todos sempre a pedir-me uma opinião. Não quero emiti-la. Quero somente observar e perder o olhar num ponto de fuga, eximindo-me de qualquer culpa. Quem opina é responsável pelo que diz. Não quero responsabilidades. Basta-me existir assim, como todas as coisas existem, quietas e sorrateiras, sem grandes pretensões para o mundo. Sem memórias de desespero. Assim: uma reticência sentada num vale a contemplar o horizonte...

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