26 de nov. de 2011

Sábado de paz

Aqui na rua o dia é assim:
Tem criança que chora,
uns pais de família a papear.
De repente passa um garoto
de sandália de dedo, o peito nu,
a assobiar.
O pai grita:
"Entra pra casa garoto, olha a chuva!"
Mulheres, donas de casa, panelas, crianças, e marido,
fofocam das janelas vizinhas.
E uma mãe grita:
"Você vai apanhar, menino!"
Há também um rio que passa ao lado de casa
por debaixo da rua.
Ele é negro e sujo,
mas ainda assim tem som de rio.
Enquanto isso, aqui em casa
tudo anda calmo.
A vovó foi passear:
"Mas a senhora já vai sair, vó?"
"Me dá licença de eu sair pra bater um pouco de perna?"
E sai, com seus passos lentos
de pés cansados e bengala.
Casa vazia, a chuva caindo
ao som de Bob Dylan,
e eu sentada,
a ouvir o tique-taque do relógio
e a escrever estas memórias para o tempo
que não tarda nem se adianta.
Chega com sua pontual simplicidade
para me lembrar que hoje é sábado
e que eu nunca estive tão em paz.

Um comentário:

  1. Estar em paz, hoje não sei o que é isso. Muito menos Bob Dylan, mas ao ler me transporto. E, afinal, o córrego sujo tem mesmo o som do rio da vida.

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Viajante espacial da poética atemporal.

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